Nós, músicos católicos, por vezes somos tentados a
mudar o anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo para conseguirmos trazer pessoas
para a Igreja e suas celebrações.
Mas afinal de contas, vale tudo para trazer as
pessoas à Igreja?
Encontrei este texto em um site, publiquei em meu
blog Misterium Fidei,
mas faço questão de publicar aqui também, para que possamos refletir sobre
nossas atitudes enquanto ministros da Música e anunciadores do Evangelho
cantado.
Por que às vezes somos tão “folclóricos” na hora de anunciar o Evangelho ou querer construir
vida de Igreja? Talvez por medo de que, ao anunciar a Palavra de Deus, ela assuste tanto,
que acabemos espantando ao invés de atrair as pessoas.
A metodologia utilizada, os novos recursos, a nova pedagogia, quando não
são bem compreendidos, podem apagar a força e beleza do anúncio salvador. Por
isso, quando pensamos em atividades eclesiais que incentivem a vida comunitária
e de fé, podemos correr o risco de achar que o meio vale mais que o fim e que
tudo é válido com tal de anunciar Jesus.
A pregação da verdade do Evangelho continua
sendo necessária para o encontro com a Palavra do Senhor ressuscitado. Ainda
que os recursos humanos sejam válidos, nem tudo é adequado na tentativa de
levar o anúncio a todos. O perigo é que, ao invés de evangelizar o mundo,
podemos acabar mundanizando o Evangelho.
Quando penso em um grupo ou movimento juvenil, sempre reconheço a
ingenuidade que pode haver na hora de fazer coisas e inovar; em meio à euforia,
tende-se a apagar a beleza de Jesus e ficar unicamente com a beleza dos atos
realizados.
Quantos dos nossos jovens, membros desses grupos juvenis paroquiais, se confessam
frequentemente, participam e recebem a Eucaristia? Quantos dos que já
participaram desses grupos hoje são casados pela Igreja? Se a porcentagem é
pequena, então precisamos nos perguntar se agimos da maneira certa. Porque os
grupos paroquiais não
existem somente para formar pessoas solidárias, e sim pessoas cristãs – e isso
vai muito além de ser solidário.
Cada uma destas atividades que chamamos de “evangelizadoras” devem ter
como centro a pessoa de Jesus. Não podemos ser ingênuos achando que tudo o que
se faz na paróquia, por ser
paroquial, leva a Jesus Cristo.
Não podemos ter medo de pregar, ensinar, transmitir a fé, apresentar aPalavra de Deus, que costuma ser uma
“faca de dois gumes”, e é por isso que precisamos ser claros desde o começo.
Não somos assistentes sociais nem simples filantropos, mas apóstolos do Evangelho; amamos em nome do Senhor e
construímos a pessoa em todas as suas dimensões.
Quando uma pessoa se aproxima das nossas comunidades, ela precisa
conhecer claramente esta proposta de vida nova, saber o que lhe é oferecido.
Não podemos ter medo de orar, pensando que as pessoas acharão chato; nem deixar
de ler a Palavra de Deus,
pensando que não voltarão; nem deixar de convidá-las à vida sacramental,
argumentando que isso deve ficar para depois.
O que oferecemos na Igreja é Jesus Cristo, o Senhor. Ele é o tesouro que
compartilhamos; sua salvação é a proposta para os que querem acolhê-la, mas
também uma nova forma de viver, de ver o mundo, de interpretá-lo e de viver a
vida.
Não me oponho às atividades paroquiais,
mas precisamos revisar se as estamos realizando de tal maneira que as pessoas
se encontrem com Cristo por meio delas, ou que pelo menos saiam com paz no
coração.
Divertir-nos, fazer amigos, tudo isso é fundamental na vida da Igreja,
porque não vivemos uma vida chata e entediante. Mas quem nos vê deve reconhecer
que nossa alegria é muito mais que a alegria do mundo, e que nossa fraternidade
em nome próprio, que ela é fruto da nossa relação com Deus.
A vida da Igreja é construída sobre o alicerce da Palavra. É claro que
as atividades de lazer, amizade e solidariedade são importantes e necessárias,
mas a fé vai muito além de tudo isso e, por isso, não podemos ficar só nas
atividades em si.
Cada dia, somos desafiados por Cristo a ter coragem, vencer o medo,
mostrar com clareza a mensagem do Evangelho,
mesmo correndo o risco de que muitos vão embora. Jesus nunca mudou a verdade
do Evangelho para
agradar os seus seguidores. Quando Ele precisava dizer as coisas, ele as dizia;
e quando muitos se afastaram dele, Ele perguntou aos outros se também queriam
ir embora. Ele preferiu correr o risco de ficar sozinho ao invés de fazer os
ensinamentos do seu Pai perderem a força.
Nós somos o sal da terra. Estamos chamados a transformar o mundo, e não
a deixar que o mundo nos transforme.
Por Matheus H.